REPORTAGEM DO LANÇAMENTO DE "LONG VOYAGE" (LISBOA) - transcrição integral

 

TEXTURAS DA POP

«Foi o até então virgem - no que a concertos diz respeito - Incógnito, no Bairro Alto, em Lisboa, o local escolhido para os Cello apresentarem, na quinta-feira, "Long Voyage", o álbum sucessor de "Alva", de 1993, e "À L`Ombre du Temps", de 95.

Rodeados por amigos, pela imprensa e outros interessados, José Nave, Pedro Temporão e Cristina Martins apresentaram sete das onze músicas que compõem o seu trabalho mais recente, disco onde as texturas electrónicas se unem como nunca antes à imidiatez de uma pop que deixam planar sem perder de vista a terra de onde são observados. As guitarras prolongam-se, fluídas, corridas, enquanto esperam descargas de refrões que acentuam sem queimar. Na apresentação, tal acabou por não ser apreendido com a nitidez revelada no disco, submersa que estava a componente electrónica no som que, dominante, ecoava da bateria.

Ainda assim continuámos a aperceber a descontracção aparente de "Ta Force S`Efface", iluminada por um sol tardio (ou uma lua madrugadora) revelador de uma inocência rápidamente desmentida. Essa é, aliás, uma tensão recorrente na música que criam, como o provam "Choses du Monde"(onde a leveza da guitarra e do baixo é contraposta pela voz e pelas paisagens evocadas pelo fundo sonoro) e "Sur La Pente" (esta apontando directamente a pop de contornos mais ambientais da década de 80). Revelando a sua outra faceta - assente na mesma metodologia, mas perseguindo objectivos diferentes - os Cello interpretaram "Sentiments Sages", onde o refrescante apelo dançante se prolonga, natural e despreocupado, sem quaisquer sinais de conturbação. Com a mesma pureza, mas mais comtemplativas, espaciais, passaram ainda pelo Incógnito "Voix de L`Aube" e "Tristesses de la Lune", uma das melhores canções de "Long Voyage", espaço para a fusão do lado orgânico e electrónico na alegria, nunca verdadeiramente assumida, de uma bonita melodia.

Apresentação feita, esperam-se concertos "a sério" para que tudo isto se confirme e, esperamos, se acentue ainda mais.»

 

In "Blitz" (Mário Lopes), 14 Novembro 2000